sábado, 23 de janeiro de 2010

Herbert de perto: vida e música do líder dos Paralamas do Sucesso



Muito já foi falado e escrito sobre o documentário de Roberto Berliner, que tem previsão de lançamento em DVD para fevereiro próximo. Há muito quero comentá-lo, depois de assistir ao filme duas vezes, mas achava que poderia ser repetitivo demais expor, mais uma vez, o que já foi tantas vezes dito sobre ele: a história de superação de Herbert de Vianna exposta com tanta sensibilidade ou a inacreditável trajetória e a união dos Paralamas, enfim.



Queria escrever mesmo sobre o que mais me tocou. Muito além da narrativa sobre a vida de Herbert Vianna e a carreira dos Paralamas, a edição conferida pela equipe de Berliner e da TVZero à película destacou a música do nosso querido. O título do documentário já deixava claro que um dos aspectos tratados seria este, mas a forma delicada da abordagem é que me deixou emocionada. Ela, a música de Herbert, é o fio condutor. E para os fãs da banda, assistir certas imagens relacionadas à obra de HV vale mais do que ouro.



O filme inicia com "Flores no Deserto", que dá a linha para uma rápida reflexão sobre quem foi o Herbert na sua juventude - um perfeccionista dedicado, cheio de garra e de sonhos, certo das vitórias que ainda conquistaria e de uma vida sem desvios no percurso - e quem ele é hoje: "Um dia posso até pagar por isto, o impossível é meu mais antigo vício"; "Estava calmo por acreditar em perfeição, tal qual o tolo da colina na canção".



Quando trata “Alagados” a cena não é somente o lindíssimo videoclipe filmado pelo próprio Roberto Berliner em 1986, mas o show realizado na Favela da Maré citada na canção, em 2005, na inauguração da Lona Cultural Herbert Vianna. Ali, pouco menos de 20 anos depois de seu lançamento, “Alagados” está pulsante, cantada aos brados pelo público e executada com garra pelos Paralamas. O grito de “Mengo”, na reinvenção da música feita pelos moradores da Maré, enche os olhos de Herbert de brilho. Momento único.



Em ebulição criativa nos anos 90, Herbert faz laços musicais com a Argentina. Chama, então, Charly García para gravar piano em “Saber Amar”... o documentário traz cenas até então inéditas daquele estúdio em 1995. Assim, ficamos sabendo que a letra da canção fora feita para Bi Ribeiro e a complexidade de suas relações amorosas: é o Herbert “conselheiro sentimental”, transformado em um dos compositores mais sofisticados do país. E podemos sentir a intensidade do momento da criação de uma das mais bonitas músicas dos Paralamas: Herbert e Charly gritam, se abraçam, discutem, se amam. Depois de assistir tais cenas, nunca mais alguém ouvirá “Saber Amar” com os mesmos ouvidos.



Outra música que não consigo mais ouvir sem pensar no documentário é “Tendo a Lua”. Ela aparece no momento em que surgem imagens de Lucy, Herbert e as crianças. A cena é tão bonita, que a canção parece ainda “maior”, ainda mais delicada. E ela dá o sentido exato de como o documentarista quis tratar a família Needham-Vianna: com saudade, mas sem dor; com a leveza que foi (é) a relação dos cinco... “tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua, merecia a visita não de militares, mas de bailarinos e de você e eu”.



E para a saída de Herbert do hospital, qual a música escolhida? “Sempre te quis”. Querem coisa mais sensível e menos óbvia? Podia ser alguma, sei lá, do “Longo Caminho”. Mas aquela letra demonstra o sentimento exato de todos diante daquele esperado momento: era ele que sempre quisemos assim, voltando aos nossos olhos, à nossa vida. O mais incrível de tudo é que nunca são somente as letras que compõem as cenas, mas também as melodias. Tudo se encaixa. É assim com vários sucessos, mas também com “Dois Elefantes”, com “A primeira neve”... Estas bonitezas que amamos, crias de Herbert, estão todas ali, para quem as conhece e para quem nunca antes havia tido a oportunidade de apreciá-las. “Eu não sei nada”, por exemplo, é trilha para a paixão de Herbert por voar.



“De Perto”, enfim, encerra o filme. Não só porque dá nome ao documentário, mas porque é o ponto de chegada da narrativa de Berliner. Ali, Herbert está em meio aos seus queridos, cantando uma música que saúda o seu amor por Lucy, depois de tudo o que passou. "Herbert de Perto" acaba, mas a cena faz entender que, como todos nós sabemos, a vida e a música de seu principal personagem , não.



Os letreiros sobem sob o som de "Ska", cuja letra diz que "a vida não é filme" e que "tanto faz se o herói não aparecer". A vida de Herbert não é filme; não há uma explicação teleológica para uma trajetória, com início, meio e fim, tudo equilibrado. O cara que aparece ali tampouco é herói; é, como todos nós, alguém que faz suas escolhas, algumas certas e outras nem tanto, alguém que apesar de todas suas estratégias e planos ainda é surpreendido pelo devir. É, ainda, um homem ("que tem sob a pele pétalas, que tem sob as unhas espinhos") que expôs todas as suas vivências em sua obra: a juventude, as vitórias, as preocupações sociais, os porres (como em "Tribunal de Bar"), o amadurecimento ("Trinta Anos"), os amores incondicionais, a perda destes amores, a paternidade ("Luca, "Santorini Blues"), a separação dos pais ("A nossa Casa"), a vida como cadeirante ("Ponto de Vista", "Brasil Afora"), a alegria de estar vivo, enfim... não há traços de heroísmo nesta história, mas sim de pura humanidade - carne, osso e coração.




+ Leia textos dos mais interessantes escritos sobre o "Herbert de Perto": o de Eduardo Lemos, o de Luiz Zanin Oricchio e o de Rodrigo Lua



+ Assista ao trailer de "Herbert de Perto":

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