quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

ROCK IN RIO I: COM AS PLANTINHAS DA MAMÃE NO CENÁRIO


O primeiro Rock in Rio foi um divisor de águas para o rock do Brasil. A idéia de trazer bandas de renome internacional para o Brasil era uma incógnita. Os astros do pop e do rock ignoravam a América do Sul em suas turnês devido às dificuldades logísticas para se trazer equipamentos e "entourage". Por outro lado, a viabilidade comercial de um show para 50-60mil pagantes, que garantiria o lucro aos orgazniadores, era questionada devido ao fato de não haver ainda a certeza de que já existia um público desse tamanho para o rock no Brasil.

Nos anos 70, duas emissoras tinham arriscado ir contra a maré e fazer uma programação centrada no rock: a Federal AM, de Niterói no fim dos anos 60, e a Eldorado FM, a Eldo Pop, surgida em 1972 e comandada pelo lendário DJ Big Boy (1945-1977), conhecedor de música negra dos EUA e rock; um equivalente a um Maurício "Ronca-Ronca" Valladares ou a um Jamari Frnaça da época. A Federal morreu quando mudou de estilo, passando a ser uma AM de programação popular e a Eldo em 78, ao adotar o prefixo 98 FM, de perfil popularesco. A onda rock no dial só foi retomada no início dos anos 80 quando Luiz Antonio Mello, a partir da proposta de seu programa, o "Rock Alive", começou a mostrar que sim: havia audiência para viabilizar o rock como opção comercial no Brasil. Em 1° de março de 1982, foi ao ar a Fluminense FM 94,9 MHz, a Maldita, comandada por Mello. O Rio de Janeiro voltava a ter uma rádio que só tocava rock. E foi quem pôs nas ondas do rádio as demos de Kid Abelha, Blitz, Celso Blues Boy e também dos Paralamas do Sucesso. A história do nascimento (e do assassinato da Fluminense FM) é contada em primeira pessoa por Luiz Antonio Mello no essencial "A Onda Maldita".

Milena Ceribelli, hoje apresentadora de programas esportivos na TV e Maurício Valladares, hoje na Oi FM comandaram programas na emissora. Aliás, foi Maurício "Guitarras para o povo" Valladares que tocou pela primeira em uma rádio uma música dos Paralamas do Sucesso. A rádio que não tocava Michael Jackson e que abria as sequências de rock sempre com uma música nacional abriu as portas para os Paralamas com a "mal-gravada" demo de "Vital e sua moto". No Natal de 1982, numa promoção da rádio lotou o Circo Voador com 5 mil almas penadas que, em plena noite de festa familiar queriam ouvir o incipiente rock Brasil. Não havia mais dúvidas: a mina do público-rock existia e estava pronta para ser desbravada.

A ponte entre Os Paralamas e a rádio foi feita por Hermano Vianna, irmão do Herbert. Hermano, graças aos seus conhecimentos enciclopédicos de rock, ganhava muitas promoções na Maldita e devido a isso fato, Valladares decidiu conhecê-lo. Quanto foi até a casa de Hermano foi apresentado à demo dos Paralamas registrada graças aos shows no Western Club (vide post anterior). Hermano levou uma gravação dos ensaios da casa da Vovó Ondina, o "estúdio" oficial da banda à época. A demo, além de músicas da lavra dos Paralamas continha covers da banda inglesa The Police. Maurício gostou e colocou Vital no ar. A banda estourou e, ao se tornar conhecida no mercado, passou a tocar no Circo Voador e em seguida foi contratada pela EMI.

O Circo era uma espéica de Marquee brasileiro. Se a casa inglesa viu os primeiros shows de Rolling Stones, The Who e Zeppelin, o Circo viu surgir em seu picadeiro bandas como Barão Vermelho, Legião Urbana, Kid Abelha e Os Paralamas do Sucesso. Em março de 1983 Os Paralamas gravaram o primeiro compacto: "Vital e sua moto" de um lado; Patrulha Noturna do outro. Daí veio Cinema Mudo e depois O passo do Lui, passaporte da banda para o Rock in Rio.

Algumas bandas nacionais tinham grande potencial pra se destacar no evento: Blitz, Lulu, Barão, Kid Abelha e Paralamas. No entanto, a Blitz em fim de carreira acabou um ano depois do festival e Barão e Kid perderam o Cazuza e o Leoni em curto espaço de tempo, levando algum tempo pra se recompor. Já o Lulu estourou o tempo do show e foi literalmente levado embora no palco rotatório no meio do show. Os Paralamas brincando em seus 2 shows no evento (o Barone na segunda noite entrou pulando corda e o Bi, usava uma camisa do mesmo tecido da bermuda do Herbert) saíram aplaudidos e botaram a galera pra dançar. A decoração do imenso palco era composta por uma palmeira retirada dos camarim. As Plantinhas da Mamãe estavam no palco.

O festival ficou marcado por erros da organização que pôs Eduardo Dusek e Kid Abelha no dia dos metaleiros (foram apredejados e o Herbert protestou no palco) e também pelo desprezo da mesma com os artistas nacionais, que criaram público para o rock no Brasil mas que foram submetidos a cachês ridículos e não podiam sequer chegar perto da mesa de som pra fazer seus ajustes.

O show, hoje disponível em DVD, foi dedicado aos heróis do rock nacional: Lobão e os Ronaldos, Ultraje a Rigor, Magazine, Titãs e rádio rock que os lançou, a maldita Fluminense FM. Tocaram Inútil... A gente vai a Copa e não consegue ganhar (demoraria mais 10 anos)... E quem diria... ao final a saudação foi: "Valeu Zé (Fortes), Carlos Savalla, um beijo pra vocês, muito obrigado, até 4a. feira (noite do 2° show da banda no Rock in Rio). A gente tá aí". O Herbert acabou o show com um hoje tão comum e emocionante "Valeu demais". Essa história toda´e ocntada em detalhes no livro "Vamo Batê Lata", do Jamari França, inclusive passando pelas peripéicas amorosas de João Barone.

O set-list daquele dia foi matador, Em 40 minutos, eles tocaram:
1. Óculos
2. Ska
3. Vital e sua moto
4. Química
5. Mensagem de amor
6. Assaltaram a gramática
7. Patrulha noturna
8. Inútil
9. Fui eu
10. Cinema mudo
11. Calhambeque / Meu erro
12. Óculos, de novo

Na sua segunda noite no Rock in Rio I, que completa 26 anos em janeiro de 2011,
os Paralamas praticamente repetiram o setlist da primeira só mudando a antepenúltima, Meu erro, que não teve a introdução com Calhambeque e um inédito bis com Patrulha Noturna... Daquelas noites em diante, o Brasil ficou definitivamente sabendo quem eram os Paralamas do Sucesso. A força dos 3 ao vivo agora era inquestionável.

O Rock in Rio era uma mentira para os artistas nacionais mas os Paralamas mostraram que o rock brasileiro merecia respeito. 26 anos depois, certamente parece que esse show foi ontem - os Paralamas mostraram que o rock nacional existia e podia atrair e emocionar o público. Á Fluminense FM, á Maurício Valladares, ao Hermano Vianna e ao Luiz Antonio Mello, devemos, como fãs, agradecimentos eternos. Eles acreditoaram nos Paralamas e a banda retribuiu mostrarando que o rockeiro nacional sabia tocar (ao contrário da Blitz, por exemplo) e que o rock Brasil estava no mapa, prestes a conquistaro território nacional. A melhor performance brasileira no evento fez decolar uma carreira já brilhante e garantiu ao trio liberdade para parir o ousado Selvagem.

Com o sucesso alcançado no primeiro RIR, os Paralamas não precisaram mais se
submeter a condições funestas impostas às bandas nacionais neste tipo de evento. isso e só voltaram a um grande festival quando tiveram a oportunidade de com muita justiça encerrar a noite junto com os Titãs no Holly Rock. Só então, O rock brasileiro passou a se sentir total. Anos mais tarde, no Hollywood Rock, enfim o rock nacional teria o devido econhecimento quando pela primeira vez uma banda brasileira fechou uma noite de um evento internacional no memorável show com os Titãs.

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